Por que preciso ir ao dentista regularmente se não sinto dor?
Escrito por: Dra. Viviani N. Tonon (CRO/SP 00000)
Se você não sente dor, é natural pensar que está tudo bem e que não precisa marcar consulta. Mas na odontologia, a ausência de dor não significa ausência de problemas. Na verdade, é justamente nas fases silenciosas que conseguimos evitar tratamentos longos, caros e desagradáveis.
Problemas bucais começam em silêncio
Cáries, gengivite, periodontite e até lesões potencialmente malignas costumam se desenvolver devagar, sem chamar atenção. Quando o paciente finalmente sente dor, muitas vezes o problema já está em estágio avançado:
- uma pequena cárie que poderia ser resolvida com uma restauração simples vira um tratamento de canal;
- uma gengivite inicial, que seria revertida com limpeza e orientação, evolui para perda óssea;
- pequenas lesões em mucosa passam despercebidas e só são investigadas quando já incomodam.
O objetivo da consulta de rotina é justamente encontrar esses problemas ainda no início, quando o tratamento é mais rápido, confortável e com melhor prognóstico.
O que acontece numa consulta de rotina?
Muita gente imagina que a consulta preventiva é apenas “dar uma limpadinha nos dentes”. Na prática, ela é uma avaliação completa da sua boca. Em uma consulta de check-up, o dentista costuma:
- examinar dente por dente em busca de cáries iniciais e fraturas;
- avaliar a gengiva, presença de tártaro e sinais de inflamação;
- observar língua, céu da boca, bochechas e lábios em busca de lesões;
- verificar a mordida (oclusão) e possíveis desgastes por bruxismo;
- realizar ou programar uma limpeza profissional para remover placa e tártaro;
- quando necessário, solicitar radiografias para enxergar áreas que não aparecem a olho nu.
No final, o paciente sai com um plano de cuidado personalizado: orientações de higiene, periodicidade das próximas consultas e, se preciso, o planejamento de tratamentos pontuais.
Prevenção sai mais barata (e mais confortável) do que tratamento
Do ponto de vista financeiro e emocional, esperar a dor aparecer quase nunca compensa. Compare dois cenários bem comuns:
- Cenário preventivo: uma cárie pequena é detectada numa consulta de rotina. O tratamento é rápido, com anestesia local e uma restauração simples. Baixo custo, pouco tempo de cadeira e mínimo desconforto.
- Cenário tardio: a mesma cárie não é tratada, avança até o nervo, causa dor intensa e infecção. Agora é necessário tratamento de canal, às vezes pino e coroa. O tempo de tratamento é maior, o custo é muito mais alto e o desconforto, inevitavelmente maior.
Quando falamos em gengiva, o raciocínio é o mesmo: tratar uma gengivite inicial é simples; já controlar uma periodontite avançada exige vários procedimentos e acompanhamento constante.
Quem deve ir ao dentista com ainda mais frequência
Algumas pessoas têm maior risco de desenvolver problemas bucais e, por isso, podem precisar de intervalos menores entre as consultas, mesmo sem dor:
- pacientes diabéticos ou com outras doenças sistêmicas;
- fumantes;
- gestantes;
- quem já teve doença periodontal (problemas de gengiva mais avançados);
- usuários de aparelho ortodôntico ou próteses extensas;
- pessoas com histórico de muitas cáries.
Nesses casos, o dentista costuma sugerir retornos a cada 3 ou 4 meses, para manter tudo sob controle.
Sinais de alerta: quando não dá para esperar
Mesmo mantendo as consultas de rotina, alguns sinais pedem atenção imediata. Procure o dentista o quanto antes se notar:
- dor de dente espontânea ou ao mastigar;
- sangramento gengival frequente;
- mobilidade (dente “mole”) em adulto;
- mau hálito persistente, mesmo com boa higiene;
- feridas na boca que não cicatrizam em até 15 dias;
- inchaço em gengiva, rosto ou pescoço.
Quanto mais cedo o problema é avaliado, maior a chance de tratamento conservador e recuperação tranquila.
Dúvidas frequentes sobre consultas de rotina
Ir ao dentista uma vez por ano é suficiente?
Depende do seu risco individual. Para a maioria das pessoas, recomendamos consultas a cada seis meses. Alguns pacientes com histórico muito estável podem ser avaliados anualmente, enquanto outros, como diabéticos e fumantes, podem precisar de retornos mais frequentes. Essa decisão é sempre feita em conjunto com o dentista.
Consulta de rotina é só “para limpar os dentes”?
Não. A limpeza é apenas uma parte da consulta preventiva. O principal objetivo é diagnosticar cedo qualquer alteração: cáries iniciais, problemas de gengiva, desgastes, alterações em mucosa e na mordida. A limpeza vem para complementar esse cuidado, removendo placa e tártaro que você não consegue tirar em casa.
Faz muitos anos que não vou ao dentista. Devo ter vergonha?
De forma alguma. É mais comum do que você imagina. Aqui na Tonon Odontologia, recebemos frequentemente pacientes que passaram anos sem atendimento. Nosso papel não é julgar, e sim ajudar você a recomeçar o cuidado com sua boca da forma mais acolhedora possível.
Não tenho tempo. Posso adiar mais um pouco?
Adiar “só mais um pouco” é o que, muitas vezes, transforma um problema simples em algo maior. Lembre-se de que uma consulta preventiva costuma ser curta e pode evitar vários retornos futuros para tratamentos longos. Encarar essa hora na cadeira como investimento em saúde e qualidade de vida ajuda a mudar a prioridade.